terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Nada demais.

Chove forte agora. Ele não sai de casa mesmo assim.
Na verdade era o que ele queria estar fazendo... Andando por aí, na chuva. Esfriando a cabeça. Mas ele se sente egoísta. E senta-se, não faz nada.
Um dia ele quis fazer alguma coisa, só por fazer. Só por não ter o que fazer. E durante uma tempestade, saiu para andar. E andou, andou até não poder mais. Chegou em casa encharcado. A felicidade brotando do rosto, junto com os pingos d’água, escorrendo-lhe pelos cabelos. Mas ainda era criança. Sabia o que estava fazendo, por isso se sentia feliz.
Engraçado como tal idéia lhe parece inusitada agora. Não tinha parado para pensar, pelo menos não se lembrava. Se quando criança ele sabia o que fazer, por que agora, já adulto, idéias feitas, ele na maioria das vezes não sabe o que fazer?
Chove mais forte agora, e parece que não vai parar logo. Ótimo, ele pensa. Ele sabe que precisa fazer alguma coisa, que precisa agir. Mas não sabe como, não sabe onde. Não quer entender o por quê. Ele se sente cada vez mais sozinho, e ainda está indeciso sobre o que fazer. Eu deveria estar feliz, ele pensa. Deveria me sentir bem... mas não sei o que se passa. Também, é uma coisa que não depende de mim. Ele não sabe mesmo o que fazer, e não se sente nada confortável com isso.
Um livro talvez o ajude. Talvez faça o tempo passar mais rápido, ou melhor. Não, ele não consegue. Não consegue ler nem uma página inteira. Alguma coisa o impede. A chuva diminui. Ele se sente frustrado, por ter se enganado. Achou que ela continuaria pela tarde toda.
“Há sol e chuva na sua estrada... mas não importa, não faz mal, você ainda pensa e é melhor do que nada... tudo que você consegue ser, ou nada”... O verso cantado pela voz rascante parece cair como uma luva. E perfura seus tímpanos, faz doer. O que vai ser, se nada for? O que seria se algo se fizesse? Há verdade em seus olhos, mas em sua mente só mentiras brotam. É o que parece. E seus olhos se tornaram insólitos. A verdade é essa.
Ele ouve alguém chamar! Não, parece ser sua imaginação. Mas pensa que, se talvez desse maior importância a sua imaginação, algo poderia realmente acontecer. Alguma coisa poderia mudar. Ele poderia ser...
Agora o tempo mudou, e a música também. Curiosamente, cai bem. “Você pega o trem azul, o sol na cabeça...” Ele olha pela janela, e vê o sol bater, impunemente, no muro em frente. E se sente mesmo num trem azul, algo que ele não sabe explicar nem pra si mesmo, mas que o leva longe, devagar e barulhento, mas leve como o vento. As flores do seu jardim parecem felizes. Ele não sabe o que sentir.
Vamos lá coração, ele pensa, você pode esquecer isso! Você pode passar por essa sem feridas! Agora ele já sabe o que fazer! E a decisão o faz ficar eufórico! Ele sabe que...
Mas o sono o pega. Ele se deita, e começa a sonhar.

2 comentários:

  1. Escrito há um tempo, mas ainda com a mesma relevância hoje, não só pra mim, creio. E espero.

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  2. Belo texto. Confuso, cheio de idéias e melancólico.

    Assim como eu.

    =*

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