sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Anos-Luz - Agosto

Da série "Eu, Lobo"


Já passa da hora. E eu ainda aqui, de ouvidos atentos, com os sentidos aguçados, mas sem saber direito o porquê, como animal à espreita de nada, sem ter presa, sem ter pressa. Faz calor e caminhar por essas ruas tem sido cansativo, e cada dia mais cansativo. É como subir uma avenida e ficar sem saber em qual das ruas laterais entrar. Exatamente assim.

                Cansado do jeito como a vida tem sido, cansado das pedras que ela tem colocado em meus caminhos, cansado de não ter nada mais a fazer além de me preocupar. Parece que não adianta chorar quando não se tem alguém por perto. Não adianta derramar lágrimas à ninguém, deixando-as rolar ao vento. Portanto choro à Lua. Daqui de cima, do alto dessa rua, posso vê-la surgindo por trás da selva de pedra de minha vida. Por trás dos morros que compõem a paisagem mais inóspita deste, agora, nada belo horizonte. Mas ela o refaz de uma forma simples e terrificante, nos colocando quase no limbo, entre nossa pequena e quase falida existência e sua espetacular e, a cada dia mais em expansão, grandeza. Viro-me para olhar essa imagem como se fosse a última da minha vida. Como se dali pra frente nada mais eu visse e essa seria a imagem gravada na minha mente, na, então daí, escuridão da minha retina.

                A partir desse momento é como se nada mais ao meu redor se movesse, como se no minuto em que eu paro, o universo – meu pequeno universo – também parasse. Como se nada mais fosse tão importante quanto esse momento: a Lua e eu. Meu choro velado e seu acalentar distante. Minha grande pequenez e sua pequena grandiosidade. Sinto que existe uma aura de tensão entre nós, nesse espaço que nos separa, nesses anos-luz que insistem em passar, luz após ano. O tempo que fico aqui, observando essa cena Homeresca – o que diria Homero? – nem chega a um minuto, quanto mais a ano-luz qualquer. Mas tudo que se passa vai num ritmo de um fado sôfrego e fatigado. Porque tudo parou, e vai parando e parando no meu momento. Tudo isso faz parte de um estranho quadro Salvadoresco – o que diria Dali? – onde a malemolência dos minutos percorre meu rosto empapada em sudorese.

                Sinto no topo de uma colina desértica, arenosa e minha, só minha. Sentado com os olhos lânguidos, a observa-la, vendo o pontear das primeiras estrelas, anunciando a noite que, pelo jeito, será longa. Sinto como se algo quisesse se desprender do fundo da minha garganta, vindo do âmago de minha alma, e me sobe pela espinha e me arrepia os pelos e põe em riste minhas orelhas e me traz um torpor como nunca antes havia sentido e é como se eu fosse uivar com todas as minhas forças expurgando todos os meus lamentos em um único abrir de boca e quando chega, finalmente...

                Lembro de que a vida deve voltar a correr em seu curso, seu tempo normal. Um último olhar, num último choroso adeus, e volto a caminhar de volta pra casa.





                                                                                                                        Thiago Cruz, 19 de Agosto, 2011.

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