segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Acrílico Sobre Sonhos (Mundo Amarelo)

Acordei e olhei pela janela, lá fora, onde está o resto do mundo. Sim, o resto. Porque o mundo todo está aqui, no meu mundo, aqui dentro. Meu mundo estranho e lindo está todo comigo, e quer sair. Quer sair e ser um mundo todo, pra todo mundo, que já não cabe mais em mim. E foi assim que acordei, mesmo que ainda esteja dormindo.
            Com os olhos ainda pesados fico pensando se os abro ou não. Será que me assustarei quando abrir a janela e olhar as coisas e ver que as coisas continuam as mesmas? Será mesmo que quero acordar? A luminescência do universo que tenho aqui dentro da minha penumbra me conforta, mesmo que eu não saiba, na verdade, do desconforto que se faz além dele. Não agora. Que acabei de acordar, mesmo que ainda esteja dormindo. Ou será que o resto do mundo acordou cedo demais? Podem dizer o que quiserem, achar o que acharem, mas eu prefiro acordar antes tarde a nunca. Afinal, se me desperta a razão, nasce-me a angústia. E, quer saber? Angustia-me a ideia de sair da cama e enxergar um mundo igual a tudo que sempre foi. Ainda me decidindo se abro ou não os olhos.



            Se bem que pensando bem, talvez eles já estivessem abertos antes de eu fecha-los. Talvez eu não quisesse ver isso porque era isso que o resto do mundo não queria que eu visse. E dessa forma, assim com esse impedimento mundano, eu não me via. Porque isso sou eu, muito mais eu do que eu penso, eu acho. E o resto é muito mais “acho” do que eu penso ter certeza.  E disso, eu duvido que você saiba. Duvido que compreenda essas cores, as nuances, os degradês, os ton sur ton. Mas, pensa só como parece engraçado. Você não faz a menor ideia do que eu estou falando. Mas eu, só de olhar, posso lhe decifrar em alguns relances, e posso conseguir isso sem esboço algum. Eu queria mesmo é te envolver, te enrodilhar em meu mundo pastel, te decifrar cada espaço com meu passo-a-passo, te provar por a mais b cada sabor dessas misturas que te rodeiam, que talvez você nem as saiba.  Tudo em alguns passes de mágica.
             Muito mais do que abrir os olhos, eu queria abrir, agora, meus potes de tinta mágica – eu tenho uma caixa cheia delas, não sabia? – e pincelar tudo que encontrasse pela frente, e talvez também tudo que ficou pra trás. Meu pincel seria minha vara de condão, e meu estro minhas palavras mágicas, meus abracadabras! O resto do mundo minha tela, e o universo, esse gigante gentil, meu ateliê. Minha exposição? Não precisa procurar muito. Não está nos cadernos de cultura dos jornais, nem nas galerias das grandes empresas, nem na beneficência dos empresários ou nas leis de incentivo que se fazem por aí. É só abrir você também a janela. Então verá o meu Mundo Amarelo.


                              Baseado em e dedicado ao Mundo Amarelo de Marina Aniram.
                                                                   Thiago Cruz, 05 de Setembro, 2011.
                                                                     Desenho e foto por Marina Aniram.

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