terça-feira, 29 de setembro de 2015

Crônicas De Um Serial Killer



Sangue Inocente


Eu sempre quis ser um astro. Ser reconhecido, ter meu nome sempre lembrado. Sempre quis mais do que sempre me parecia ser oferecido na vida. Sempre quis ler meu nome impresso nas páginas dos jornais, mesmo que fosse na sessão policial. Mesmo que não fosse eu a ler. Um dia... um dia.

                Nunca fui muito bom em muita coisa. Nunca tive tino musical, nem literário, muito menos acadêmico. Portanto eu não sabia muito bem como chegar a esse estrelato. Nunca fui de estudar, jamais tive paciência sequer para me concentrar em uma única estrofe escrita num livro. A mente vagava longe, indo a lugares que eu nem mesmo podia explicar. No entanto, mesmo não sendo dado aos estudos, a busca por conhecimento sempre esteve em mim. A curiosidade sobre o que, talvez, estivesse à minha frente mas que ainda não me tinha sido aberta. Como eu disse antes, mesmo que, com todas as minhas forças, eu tentasse  me concentrar em algo que me era imposto, minha mente ia longe. Por vezes a lugares estranhos, obscuros do meu ser. Sendo, então, eu meu maior mistério, não havia nada mais a estudar, a vasculhar, que não eu mesmo. Não foi difícil, depois de muito me recolher ao meu esconderijo recôncavo da alma, descobrir minha vocação. Meu destino rumo à fama.

                Por anos e anos a humanidade sempre teve as mais estranhas e complexas razões de atração em relação a outro ser humano. A adoração pelo estranho, obscuro, nefasto e escuso sempre foram inerentes a raça. Afinal, matar e morrer sempre foram da nossa natureza. Morrer, é claro, é inevitável. Nunca houve como fugir da morte para nós. Seguindo-se a isso, percebendo a fragilidade e propensão ao falecimento, por assim dizer, aprendemos com louvor a matar. Inicialmente por necessidade. Por questões territoriais, por sobrevivência, para matar a fome. Depois porque descobrimos que para satisfazer nossa masculinidade e orgulho racionais também podíamos matar. No fim das contas acabamos entendendo que matar era necessário, fosse qual fosse a razão.

                Diante de tanta racionalização da minha parte sobre matar e morrer, fama e ostracismo, ser ou não ser humano, finalmente eu entendi. Se eu quisesse ser famoso, se quisesse ser adorado, eu teria que compreender e aceitar. Eu sou um serial killer.

                Esse será um amontoado de histórias onde contarei a vocês como consegui, com muito esforço e dedicação, chegar às páginas dos jornais. Mesmo que na sessão policial. Mesmo que não lido por mim.

                Até breve.

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