Contos. Eu não
escrevo contos. Pensava que escrevia porque pra mim cada história contada é um
conto, tudo que se conta do saber e do não saber, do sentir e do não sentir,
tudo que se conta, pra mim é um conto. Pensava que escrevia, até que percebi
que, na verdade, escrevia o que pensava. E talvez seja isso que define o “não-conto”.
Com o que pensamos em exposição você faz as pessoas tentarem entender o que se
passa ali naquelas linhas, abaixo dos fios dos cabelos da cabeça de quem escreveu
o que pensou. Quer dizer, você as faz pensar. E isso, além de cansativo, é
desnecessário pra maioria já que ela tem tantos e tantos “acessários” – sig.: subst. masculino de condescendência
moderna: acessórios necessários – criados
justamente para já pensarem, ponderarem, sentirem, dizerem e até ouvirem, se
necessário, por elas. As pessoas querem saber do que não é, entende? Da vida alheia
perfeita ou imperfeita, e não de refletir sobre o próprio umbigo. Muito menos
sobre o umbigo intelectual de outro. Percebi dessa forma que você tem quase que
se tornar outro pra contar alguma coisa que possa ser chamado de conto. Tem que
fantasiar tal coisa até o ponto exato da fantasia tornar-se o que deseja quem lê
ou escuta. Quando esse desejo inconsciente torna-se realidade, o conto
aproxima-se tanto do leitor que ele não necessita mais “intelectualizar” sobre
o que lê, porque o que ele está lendo é, na sua doce ilusão, ele mesmo. Com
isso percebi que contar algo a tal ponto requer mais do que habilidade com
palavras. Requer magia. Mas também sei que magia não existe. É tudo um truque
de luz e sombra e "grafo-hipnose" – sig.: subst.
feminino: hipnose pela escrita – usado como peça chave na construção da não
inventividade alheia. E isso eu não sei fazer. Magia não existe. Eu sei
escrever, por vezes, sobre o irreal, mas não sobre o inexistente.
Contos? Eu não escrevo contos. Acabei de
saber.